Quem os vê passando de moto por aí nem imagina a história que carregam: os leituristas da DAE Jundiaí, hoje um grupo de dez pessoas, são espectadores do desenvolvimento da cidade e da empresa, na qual estão há décadas e têm orgulho de representar. Eles reúnem memórias de quando a leitura do hidrômetro era feita à lápis, a conta entregue sete dias depois – a pé ou de ônibus – e as mordidas de cachorro faziam parte do dia a dia.
“Foi muito bom ter vivido tudo isso”, conta José Carlos Alves, que entrou na DAE como leiturista e notificador em 17 de julho de 1996. Alves passou no último concurso para a área realizado pela empresa, no mesmo ano. “A DAE acompanhou o crescimento da cidade e investiu. Fez represas, os parques, implantou o tratamento de água e de esgoto. Em Jundiaí, sempre foi raro faltar água”, diz.
Ao lado dos colegas Roberto da Cunha Franco, 55 anos, sendo 35 de DAE, e Dorival Peppe, 71 anos e 27 de empresa – que se transformaram em amigos, depois de tantos anos juntos – Alves relembra como o trabalho era antigamente. “Eram quatro grupos de leituristas nas ruas e mais um para grandes clientes, as indústrias”, detalha.
Para chegar aos bairros, eles iam de ônibus e, lá, andavam a pé, casa por casa, comércio por comércio, preocupados em fazer a leitura correta. Se chovesse, o jeito era usar capa de chuva; para os dias de sol, chapéu e protetor solar. Apenas em 2007 vieram as motos, reforçadas por uma nova frota no ano de 2018.
“Eu passei no concurso de 1996 e fiquei esperando me chamarem. Morava na Ponte São João e o Zé Carlos passava na minha rua e eu ficava ali observando, sonhando com o dia em que chamariam. Sempre quis ser servidor público”, revela Peppe, que, além das lembranças, guarda com carinho fotos e recortes de jornal desde quando chegou à DAE, em 1997.
Criatividade e capricho
Como os hidrômetros ficavam dentro dos imóveis, eles lançavam mão da criatividade para entender qual era o consumo e registrar a leitura. Uma vareta com uma esponja na ponta, um esguicho de água e um espelho ajudavam na função. “A gente sempre fez tudo com capricho e com cuidado, porque estávamos representando a DAE”, diz Peppe. “É uma honra trabalhar em uma empresa tão dignamente representada”, complementa, repetindo a frase que disse há mais de 20 anos, em um jornal da empresa.
Apesar do cuidado, eles não escapavam das mordidas de cães – pelo menos uma todas levaram. “No meu caso foram duas, a primeira delas na rua XV de Novembro, em uma rua sem saída. O cachorro deu a volta e veio para cima de mim”, conta Franco, o mais novo de idade e o mais antigo de DAE, entre os três. Ele passou no concurso em 8 de agosto de 1989, aos 19 anos.
“Minhas conquistas foram todas aqui”, afirma, com orgulho. Tendo como único trabalho a DAE, ao longo dos anos, ele se casou e criou os três filhos. Em 35 anos de empresa, um acidente que assistiu na rua Rangel Pestana marcou sua trajetória. “Estava dentro do ônibus, indo para o bairro fazer a leitura, e uma mulher tentou atravessar. Outro carro acabou a acertando e ela foi parar longe. Nunca esqueci aquela cena.”
Além deles, integram o grupo de leituristas Almir Edson da Silva, Luiz Antonio Cenachi, Vicente José da Silva, Claudeir Pereira, Fernando Ricardo de Oliveira, José Fernando Marques Ferreira e Jamil Condini.
Por volta de 2010 e com o crescimento da cidade – atualmente, são 118 mil clientes –, a DAE decidiu terceirizar o serviço de leitura. Anos depois, as contas começaram a ser emitidas no ato, facilitando o pagamento. Os leituristas que ainda estão na empresa cuidam, hoje em dia, da entrega das contas de água que ficaram retidas, para confirmação da leitura, e ajudam nas notificações. “Não sei como será quando não vier mais para cá, todo dia”, lamenta Alves, que, em 2025, se aposenta da empresa.