Alterações de clima, mudanças de valores comportamentais, reúso e modelos de usos de águas residuárias foram alguns dos assuntos abordados durante o 1º Encontro Técnico DAE/USP realizado nesta sexta-feira, na DAE Jundiaí. O evento foi uma parceria entre DAE, Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente (NECMA/USP), Instituto de Pesquisas da Civilização Yoko (IPCY), TV Japi e Ciesp Jundiaí.
Durante a abertura, o diretor presidente da DAE, Jamil Yatim, agradeceu as parcerias e ressaltou a importância de debates como os realizados neste Encontro. “É muito bom reunir técnicos, estudantes, nossos funcionários, para discutir o assunto água. Temos que nos preparar para que daqui 20 anos para que as pessoas recebam a água da mesma forma que nós estamos recebendo agora.”
O diretor de mananciais da DAE, Aray Martinho, apresentou um balanço de como é a situação hídrica em Jundiaí e ressaltou que a conservação da água é uma responsabilidade de todos. “Não é um problema de amanhã ou depois é para o resto da vida. Devemos consumir menos e produzir mais.”
De acordo com Tércio Ambrizze, professor no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, os extremos meteorológicos como secas ou inundações coincidem com os anos de temperatura média mais elevada. As questão sobre as chuvas de 2015 já estão respondidas com a chegada dos meses de estiagem com uma queda de 258 milímetros sobre a média do 1º trimestre.
Como o tempo é um prazo de algumas semanas e o clima tem seu foco em anos ou décadas, ele lembrou que as variações para mais ou para menos não podem ser apontadas com grande antecedência. Mas apontou que, por causas humanas ou naturais, a concentração de dióxido de carbono e gás metano na atmosfera já atingiu 400 PPM (partes por milhão) em 2014, contra 280 PPM no início do século 20. “Nos últimos 100 anos essa concentração aumentou em 40%.”
Hugo Penteado, especialista em economia ecológica pela Faculdade de Engenharia, Administração e Contabilidade (FEA), alertou para um erro conceitual da economia, onde considera-se o ciclo circular (extrai-produz-descarta). Como os recursos da natureza são finitos, como mostra a crise atual de água no país e no mundo, a noção de crescimento ilimitado e desigual precisa ser substituída pela noção de ciclos naturais e de responsabilidade humana.
“Não podemos exterminando a natureza como se não fôssemos apenas mais uma espécie, infelizmente a única que pode resolver o problema. A maioria dos países vive além de sua biocapacidade e nós estamos entre aquelas que exportam parte dos recursos sem controle, inclusive água”, disse. “É preciso agir tanto na oferta, com o cuidado e valorização das fontes de sua produção, como na demanda, adotando meios e tecnologias inteligentes de redução. E isso não se resolve apenas nos novos empreendimentos, porque o estoque construído é gigantesco.”
Ambos usaram o mapa do avanço da área urbana de Jundiaí apresentado pela DAE sobre as zonas de mananciais de água (e rurais) na direção norte como um risco que ainda pode ser equilibrado nessa ótica, lembrando que a “poupança” das represas atuais corresponde a dois meses de consumo e está interligada à bacia PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) e ao Sistema Cantareira.
Entre os motivos para uma ação conjunta da comunidade nesse tema está, por um lado, o risco para a economia e até para empregos de danos maiores como no sistema elétrico. Por outro, em uma visão voltada para as novas gerações e de longo prazo, na própria sobrevivência ou extinção da espécie humana.
Paola Lo Monaco, professora do IFES – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, mostrou modelos de águas residuárias oriundas de atividades agrícolas agropastoril e alertou para as questões de tratamento de água, das cianobactérias e da maior dificuldade em tratar á água. Durante sua apresentação fez um alerta sobre um problema grave hoje na agricultura: “Não estamos fazendo recarga dos aquíferos para abastecer as nascentes.” Paola também apresentou estudos desenvolvidos para tratar esgoto com flores.
Encerrando o encontro, Omar Grecco, gestor de Negócios da Nova Opersan falou sobre uso da água na indústria e alertou para a importância do reuso. Segundo ele, do total de água consumida na região metropolitana de São Paulo, apenas 7% são fornecidos por empresas de abastecimento. “A maioria destas empresas usa água de poços e praticamente tudo é jogado fora. É necessário investir em alternativas que fora do país são utilizadas há muito tempo.”
José Roberto Kassai, professor do Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente (NECMA/USP) e um dos coordenadores do Encontro, fez um balanço positivo do evento e lembrou que Jndiaí não tem água para 50 anos, mas ainda assim está numa situação bastante privilegiada em relação à outras cidades, “È necessário continuar com os investimentos e mudar a longo prazo o uso da água na agricultura, que consome mais de 70% da água mundial”, disse. “Entretanto, o tratamento e reuso, principalmente no caso das indústrias e grandes consumidores, seja uma alternativa mais eficiente e com maior escala. E a sociedade civil deve continuar economizando esse recurso precioso.”